quinta-feira, 21 de abril de 2011

AINDA SOBRE O MUSEU DA ELECTRICIDADE...

.




Os museus são espaços consagrados ao passado, mas projectando-o no futuro, o que implica o presente que vivemos. Nos museus, mergulhamos num tempo. Pode ter sido nosso, habitante das nossas recordações, ou um outro, lá mais longínquo, quando ainda não existíamos.

Vem esta conversa a propósito do Museu da Electricidade, que visitei, num agradável dia, passado em convívio de amigos e que me deixou a meditar, em quanto desconhecemos de como era, e até mesmo do que está por detrás, do bem estar que usufruimos.

Por exemplo, aquele gesto de premir um botão e acender uma lâmpada. Tão cómodo e simples esse milagre! Sendo a iluminação o mais elementar do variado leque que tem como suporte a electricidade. Mas quando premimos esse botão, não imaginamos o quanto trabalho e sacrifício leveram àquele ponto.

No museu, além de se poderem ver as máquinas reais, hoje em desuso, alimentadas a carvão mineral, recriam-se cenários, onde podemos perceber como trabalhavam os operários que as mantinham em produção. Era um trabalho extremamente duro, onde as temperaturas atingiam alturas tais que dir-se-iam chamas a alimentar o Inferno, o que de facto acontecia, pois trabalhar naquele cenário dantesco era infernal. Os trabalhadores, sem qualquer protecção estavam sujeitos a temperaturas e radiações perigosas para a saúde. Dos mais chocantes, era o trabalho de retirar as cinzas resultantes da combustão do carvão, as quais continham graus consideráveis de radioactividade. Esse trabalho não se aguentava muitos dias seguido. Os trabalhadores adoeciam e despediam-se, regressando quando melhoravam, porque necessitavam de trabalhar, (muitos vindos do campo para a capital e estando longe das famílias), e não o conseguiam noutro lugar, por não terem qualquer especialização.

Hoje estas condições poderão ter melhorado substancialmente mas não pensemos que vivemos num feliz mar de rosas. lembremos como exemplo, a existência no nosso país, de centrais de produção electrica a partir do carvão (Sines) e se as condições de trabalho destes operários são melhores, como serão as vidas dos mineiros que nas profundidades extraem o mineral?

É assim a vida. Envolvemo-nos no entusiasmo das coisas tão acessíveis e fáceis que o dia a dia nos oferece, mas esquecemos os sacrifícios e dificuldades que muitos passam para nos permitir tanto bem estar.


Jesus Varela


Sem comentários:

Enviar um comentário